


Após uma longa conversa naqueles finais de tarde em que tudo dá certo para chegar em casa cedo, nas águas de uma banheira, à luz de velas, com a bossa nova deixando os sonhos mais possíveis... decidimos que nosso sonhado barco seria construído.
Os motivos que nos levaram a esta opção, na verdade foram muitos, que pesavam para um lado e para o outro, mas acho que dois formam decisivos: as opções de barcos prontos com características de veleiros de oceano para longos cruzeiros, não eram abundantes ( tamanho dos tanques, quantidade de armários, resistência, etc, etc e etc....). O segundo é que não havia financiamentos razoáveis que coubesse em nosso orçamento.
Entramos em contato com o Cabinho (
www.yachtdesign.com.br ) e compramos um catálogo de projetos. Passamos a analisar vários projetos e nos apaixonamos por vários, que variavam desde a simplicidade do mulichine 28 até a complexidade do cabo horn 40. Em uma de nossas visitas ao Pará, vizitamos um tradicional estaleiro de barcos de madeira em Abaetetuba e conversamos com um artesão caboclo, figura, chamado Spergueti que ouviu nossas explicações do que seria Samoa 33 ( era o que tínhamos escolhido ), características do projeto e nossas intenções e disse : Esse tamanho é muito “zito” para o oceano ache um grande e volte aqui. Olhamos o catálogo e como a mão de obra local era barata, voltamos e pedimos para orçar o cabo horn 40, demos alguns detalhes do projeto , ele pensou e disse “meu senhor, aqui nois semo engenheiro de nascença....Não precisa de planta, só me diga quanto tem de buca e de comprimento, o senhor não vai se arrepender, vai ficar lindo e forte e com luxo ( acabamento primoroso em madeira ). Bem vimos que eles eram ótimos para fazer escunas de madeira com fama internacional, mas veleiros...
Voltamos para São Paulo e após nova conversa com Cabinho sobre indicações de quem construir, fomos atrás destes estaleiros e assim chegamos ao Conrado Becker,(www.conradobeckerembarcacoes.com.br)falamos de nossas pretensões com um veleiro e ele achou que deveríamos fazer um charter com Brita e Robertos Cepas, do veleiro Makai ,para conhecermos um 28. Voltamos de um delicioso final de semana velejando no Makai e decididos a fazer o 28. Seria um sonho possível. Conversamos com nossos grandes amigos Argemiro Scatolini e Helio Cardim, companheiros de trabalho e intermináveis conversas sobre futuras velejadas e os três decidiram comprar o projeto do 28.
Vendemos nosso marreco ( veleiro de 16 pés), compramos mogno e começamos nossa saga....
Após algum tempo o Conrado havia terminado o casco de um 33 e nos chamou no cantinho e disse: olha eu sei que o projeto que vocês gostariam de ter é o Samoa 33 e depois de construir este casco, acho que não vai ficar muito diferente em relação a mão de obra as outras coisas vocês compram com calma. Caímos neste conto com muita alegria....Era tudo o que desejávamos, um barco com uma paredinha na sala para por relógio, barômetro, quadrinho....Bom espaço interno, casco forte, para nós a “síntese “ do que seria um barco para longos cruzeiros.
Assim, felizes, vendemos nossas anteparas e compramos um bom tanto de mogno para começar o 33. Cuja características características construtivas são: casco feito em strip planking ( ripas de madeira maciça coladas e cavilhadas tendo como moldes as anteparas),este casco foi fibrado por dentro e por fora e sempre usando resina epóxi, meu Deus, quanta resina epóxi!!!.
O convés foi construído em play glass , ou seja , com tábuas de compensado naval também revestidas interna e externamente com fibra de vidro.
Nesta fase começou a etapa mais demorada do processo que foi a construção do interior. Acho que 70% do tempo de construção foi com interior do barco. São infinitos detalhes, construídos artesanalmente um a um.
Quando achamos que a coisa estava quase pronta, descobrimos que ainda faltavam muitos detalhes, aço inox, elétrica, hidráulica e a pintura. Sem falar naqueles brinquedinhos eletrônicos, é claro.
Com muito suor e lágrimas,um a um dos “detalhes” foram sendo resolvidos até que a fase final, já no Saco da Ribeira ( Ubatuba –SP ), parecia véspera de lançamento de foguete na NASA. Eram quatro equipes trabalhando simultaneamente e a gente correndo atrás do que faltava.
Na última semana, mudamos para o Saco da Ribeira, em uma pousada e passamos a nos dedicar em período integral.
Foram sete anos de construção do nosso barco, e uma vida que foi mudando, se adaptando, se redirecionando.
Nosso barco está muito bonito, forte e com as características que havíamos sonhado, ou seja preparado para longos cruzeiros oceânicos e a um custo final cerca de 2/3 do custo de um barco pronto, pagos em “ suadas prestações “.